quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Lente e Luz de Martin Parr


O fotógrafo da Magnun, Martin Parr, apresentou, na semana passada, o seu trabalho na ArteLisboa. As imagens projectadas numa sala (infelizmente) pouco concorrida deixaram no ar algumas gargalhadas pela forma bem-humorada e até excessiva como o fotógrafo faz as leituras dos rituais sociais de massas do ponto de vista dos hábitos ocidentais. As fotos deste inglês não mostram as misérias que povoam o Mundo, mas uma crítica ao exuberante estilo de vida do século XXI. O paradigma do consumismo.
A utilização de flash, como suporte digital, é uma espécie de assinatura dos seus trabalhos e projecta uma ideia de objectividade e clareza. Este artista, que prefere livros de fotografia a exposições, não tem uma visão pessimista do uso de novos suportes digitais como telemóveis, iPods ou a Internet, que considera boa para a fotografia porque ajuda a divulgá-la. E isso reflecte-se em boas notícias para a edição de livros de fotografia.
Pelo visionamento da sua obra percebemos uma chamada de atenção ao desenfreado modo de vida do homem ocidental. Apesar da muita miséria, há uma enorme circulação de dinheiro. Esse homem ocidental também se pode apelidar de 'Incaracterístico', apresentado pelo psiquiatra e ensaísta, António Bracinha Vieira, no livro 'Ensaio Sobre o Termo da História -- 350 aforismos contra o Incaracterístco'. O livro escrito há dezassete anos parece uma antevisão dos dias de hoje. Quem é este Incaracterístico? 'É o homem que vive mergulhado no fluxo da mercadoria, do capital, que vive para consumir'. E se para o romancista Barcinha Vieira esse homem se tornou uma regra nas sociedades, ele está, porém, 'bastante invisível' para o observador comum. Numa análise mais atenta pela lente de Parr, este retrato da sociedade é apresentado com humor e de uma forma mais descontraída. Martin Parr, ao criticar a sociedade, está também a criticar-se a si mesmo -- ' está toda a gente a dizer que a culpa é dos outros', mas 'o que é certo é que a culpa é nossa'. O antagonismo achado nestas leituras é a chave para a compreensão dos dois retratos aqui desenhados. Duas visões (des)concertantes da contemporaneidade.

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